segunda-feira, 28 de maio de 2012

Passando a limpo o que já se passou



Comecei a escrever uma pequena história de muitas outras histórias, um texto comovente e que adoro.



Escrevo numa noite chuvosa de janeiro, com os olhos sonolentos e um cansaço que me toma o corpo inteiro. As mãos um tanto trêmulas a digitar e nos lábios um sorriso de satisfação, pois finalmente sobra-me ânimo para tecer palavras sobre o que vivi e o que pensei ter vivido, ao lado de muitos que amei e de outros que apenas deixaram uma pequena lembrança em minha história.
Porque só agora escrevo? Eu o faço neste momento, pois percebo que meus dias têm se desmanchado em meus dedos, escorrido pelo chão e se esgueirado por entre as frestas de minha casa, hoje, mais rápido e perceptível do que em qualquer outro momento. As horas, eu as conto uma a uma, os minutos assemelham-se a borboletas a esvoaçar pelo ar e desaparecer tão rápido quanto chegam. Fico aqui, sob a luz fraca da única lâmpada do único quarto ocupado de uma casa grande e suntuosa se comparada àquelas nas quais estive por tanto tempo. Falar sobre o que vivenciei e o que senti é tão reconfortante quanto perturbador, assim, estranhamente paradoxal. Traçar em poucas palavras cada momento de alegria, tristeza, amor, ódio, amizade, solidão parece uma tarefa árdua. Não tenho idéia do que pode vir de cada frase que se aproxima. Escrevo sem me dar conta do imenso mar de histórias que vivi. Aqui em minha frente há um poço que aterro com minhas lágrimas e alegrias, numa mistura de sentimentos que são as lembranças de um velho sonhador.
Sorrio ao perceber que minha história já está ou sempre esteve escrita, mas só hoje passa a ser transcrita. É essa a verdade, o que vivi nunca mais voltarei a viver e aquilo que senti, talvez o sinta novamente enquanto o ofereço a você nessas singelas palavras, mas nunca com a mesma intensidade, porque ainda que permaneça em minhas memórias os cheiros, os sabores, os sons, as cores e o calor ou frio daqueles dias, estes já se foram e permanecem apenas na lembrança.
A chuva lá fora já não traz mais o cheiro de terra molhada, mas ainda traz consigo o vento frio e o tilintar que muitas vezes ouvi.
Pareço mais um idoso nostálgico, um homem que, como tantos outros, viveu e hoje definha. Posso parecer a sombra de um rapaz que já não mais existe e que deixou no mundo uma mancha daquilo que um dia foi. Mas aqui, sentado frente a uma escrivaninha, velha e gasta pelo tempo, um tanto arranhada e sem beleza, respira e se recorda um homem que lutou batalhas que nem todos um dia poderão contar, viveu amores que não poderiam nascer senão do coração dos maiores poetas. Pareço velho e cansado porque é justamente isso que sou.
Sonhei tantas vezes com este dia, aquele em que eu me colocaria a narrar minhas façanhas e minhas derrotas, meus encontros e desencontros. Confesso que falhei muitas vezes, sendo injusto ou simplesmente inocente, colérico com quem não merecia e amável com aqueles que desejavam meus tropeços. Fui humano e por isso errei, e ainda erro, e espero ter tempo para errar um pouco mais.
Sei que há momentos que se eternizam em nossa memória e são esses que facilmente transformo em textos, e outros, mais escondidos, um tanto intangíveis, me esforço em recordar. Mas se minha história não é tão interessante quanto um filme hollywoodiano ou como um livro de Neruda, peço desculpas, mas é essa a que tenho e lhe entrego com tanto regozijo. Espero que possa sentir o que senti, viver nessas linhas aquilo que vivi e saber, que por mais que eu tenha sonhado um dia transcrever meu passado, nunca imaginei ser tão difícil separar aquilo que sonhei daquilo que realmente existiu...

E se quiser ler o restante, compre o livro. Aliás, não existe livro, mas quando existir, compre. Rsrs

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