Comecei a escrever uma pequena história de muitas outras histórias, um texto comovente e que adoro.
Escrevo numa noite chuvosa de janeiro, com os olhos sonolentos e um
cansaço que me toma o corpo inteiro. As mãos um tanto trêmulas a digitar e nos
lábios um sorriso de satisfação, pois finalmente sobra-me ânimo para tecer
palavras sobre o que vivi e o que pensei ter vivido, ao lado de muitos que amei
e de outros que apenas deixaram uma pequena lembrança em minha história.
Porque só
agora escrevo? Eu o faço neste momento, pois percebo que meus dias têm se
desmanchado em meus dedos, escorrido pelo chão e se esgueirado por entre as
frestas de minha casa, hoje, mais rápido e perceptível do que em qualquer outro
momento. As horas, eu as conto uma a uma, os minutos assemelham-se a borboletas
a esvoaçar pelo ar e desaparecer tão rápido quanto chegam. Fico aqui, sob a luz
fraca da única lâmpada do único quarto ocupado de uma casa grande e suntuosa se
comparada àquelas nas quais estive por tanto tempo. Falar sobre o que vivenciei
e o que senti é tão reconfortante quanto perturbador, assim, estranhamente
paradoxal. Traçar em poucas palavras cada momento de alegria, tristeza, amor,
ódio, amizade, solidão parece uma tarefa árdua. Não tenho idéia do que pode vir
de cada frase que se aproxima. Escrevo sem me dar conta do imenso mar de histórias
que vivi. Aqui em minha frente há um poço que aterro com minhas lágrimas e
alegrias, numa mistura de sentimentos que são as lembranças de um velho
sonhador.
Sorrio ao
perceber que minha história já está ou sempre esteve escrita, mas só hoje passa
a ser transcrita. É essa a verdade, o que vivi nunca mais voltarei a viver e
aquilo que senti, talvez o sinta novamente enquanto o ofereço a você nessas
singelas palavras, mas nunca com a mesma intensidade, porque ainda que
permaneça em minhas memórias os cheiros, os sabores, os sons, as cores e o
calor ou frio daqueles dias, estes já se foram e permanecem apenas na
lembrança.
A chuva lá
fora já não traz mais o cheiro de terra molhada, mas ainda traz consigo o vento
frio e o tilintar que muitas vezes ouvi.
Pareço mais um
idoso nostálgico, um homem que, como tantos outros, viveu e hoje definha. Posso
parecer a sombra de um rapaz que já não mais existe e que deixou no mundo uma
mancha daquilo que um dia foi. Mas aqui, sentado frente a uma escrivaninha,
velha e gasta pelo tempo, um tanto arranhada e sem beleza, respira e se recorda
um homem que lutou batalhas que nem todos um dia poderão contar, viveu amores
que não poderiam nascer senão do coração dos maiores poetas. Pareço velho e
cansado porque é justamente isso que sou.
Sonhei tantas
vezes com este dia, aquele em que eu me colocaria a narrar minhas façanhas e
minhas derrotas, meus encontros e desencontros. Confesso que falhei muitas
vezes, sendo injusto ou simplesmente inocente, colérico com quem não merecia e
amável com aqueles que desejavam meus tropeços. Fui humano e por isso errei, e
ainda erro, e espero ter tempo para errar um pouco mais.
Sei que há
momentos que se eternizam em nossa memória e são esses que facilmente
transformo em textos, e outros, mais escondidos, um tanto intangíveis, me
esforço em recordar. Mas
se minha história não é tão interessante quanto um filme hollywoodiano ou como
um livro de Neruda, peço desculpas, mas é essa a que tenho e lhe entrego com
tanto regozijo. Espero que possa sentir o que senti, viver nessas linhas aquilo
que vivi e saber, que por mais que eu tenha sonhado um dia transcrever meu
passado, nunca imaginei ser tão difícil separar aquilo que sonhei daquilo que
realmente existiu...
E se quiser ler o restante, compre o livro. Aliás, não existe livro, mas quando existir, compre. Rsrs
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