domingo, 13 de janeiro de 2013

Estive pensando em lágrimas



Estive seriamente pensando em chorar.
Derramar minhas lágrimas sem medo e fazer transbordar tudo aquilo que me sufoca, que faz crescer em mim a dor e a angústia, e ainda, aquilo que apenas vem para agigantar tais sentimentos e que me faz um invólucro diminuto prestes a explodir.
Pensei em chorar por horas ou por minutos ou pelo tempo suficiente. No entanto, tive medo de chorar por dias e esquecer dos compromissos, do trabalho e da família; de deixar tudo de lado por uma boa choradeira.
Estive sentado em minha escrivaninha com uma folha de papel em branco e um lápis em uma das mãos, tentando imaginar se deveria e o que deveria transcrever naquela tarde, ou se seria melhor apenas deixar que as gotas de lágrimas fossem delicadamente sorvidas por aquela folha, captando todo o sentimento ao qual me propusera a revelar. Talvez fosse o suficiente.
Estive, também, pensando se deveria render-me ao nó em minha garganta, o qual não vai embora por mais que eu engula minha própria saliva ou um outro líquido qualquer. Um bom gole de vinho não o desfaz, litros e litros de água, tampouco. Ele ainda está lá como sinal de uma alma castigada, de um espírito destruído.
Não sei se chorar é o melhor neste momento e, sinceramente, não sei quando o foi.
Poderia entregar-me às minhas lágrimas cristalinas, dedicar-me um bom tempo a tão antiga arte.
Sim, chorar é mesmo uma arte. Envolve inspiração, envolve uma dramatização sem igual, uma entrega magnífica a um sentimento, seja ele qual for.
Sei que não tenho mais um domínio satisfatório sobre tal manifestação da alma, sobre essa tão linda demonstração de humanidade, essa tão desprendida forma de se dizer que se importa.
Não que eu não tenha experimentado motivos o suficiente para me fazer chorar ultimamente. Muito pelo contrário. Acredito que desaprendera a chorar por uma pretensa força que adquirira em todos esses anos de batalhas perdidas.
Estive boa parte desta tarde pensando o melhor jeito de começar. Planejei onde e quando.
Poderia iniciar o meu pranto no banheiro enquanto tomo uma ducha, sentindo as gotas de água a tocar o meu corpo e lembrando de cenas que pensara um dia haver esquecido.
Poderia iniciar agora mesmo, quem sabe; ou talvez outro dia.
Não tenho a pretensão de chorar a tarde toda, nem mesmo por algumas horas. Por isso o medo de começar.
Vislumbro o meu passado e meu presente e vejo que não tenho derramado lágrimas o suficiente, nem me entregado tão satisfatoriamente aos meus sentimentos.
Fui omisso, prejudicando mim mesmo. A sinceridade não é a minha mais notável característica.
Pensei muitas vezes em chorar, mas as obrigações do dia a dia não me deixaram chegar ao ato em si. Por isso fui negligenciando, negligenciando, negligenciando... E hoje penso mais detidamente em começar a praticar. Não estou certo ainda quando nem como. Mas dentro em breve terei a resposta.
O nó em minha garganta aperta mais e o choro contido continua a perturbar.
Vejo hoje que chorar é transbordar, é reviver, é passar a limpo, é entregar-se, é render-se à realidade, é, enfim, uma auto ajuda.
Nunca gostei de livros de auto ajuda.
Não sei quando começar.

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