[...]Sob seus pés
uma vida se dissipava numa espuma avermelhada e num chiado quase inaudível. O
corpo estirado no chão, os membros retesados, os pelos eriçados e os olhos
esbugalhados. Gaturino dava adeus ao mundo, dolorosa e lentamente, as garras a
mostra e a barriga inchada, e a garotinha sorria, embalada pela cena, extasiada
com o espetáculo. Pobre animalzinho! A primeira vítima fatal das maldades
daquela pestinha personificada.
De repente, um
grito:
- Menina, o
que você fez?
- Eu?
- Sim, você. –
falou a mãe, tentando conter o nervosismo.
- Nada. Ele
tomou porque quis.
- O que? O que
o Gaturino tomou?
- Eu falei no
ouvido dele, mamãe. Avisei que não era coisa boa. Mas ele nem prestou atenção.
Foi lá e bebeu.
- Responde,
menina. O que ele tomou?
- Leite em pó. Aquele que você me
disse para não mexer.
- E você
mexeu? – perguntou a mãe com a expressão ainda mais desesperada.
- Mexi.
Derramei no leite do Gaturino.
De súbito, a
mãe empalidecida agarrou a criança e levou-a até a pia, tirou suas roupas, e
ali mesmo, na água fria, deu-a um banho para que tirasse qualquer resquício do
veneno de ratos. Levou-a até a cozinha e a fez tomar quase um litro de leite,
enquanto as crianças sem entender nada observavam a cena, umas rindo às
gargalhadas e as maiores chorando. Naquela tarde o pai comeria arroz queimado.
A mulher, sem conseguir proferir qualquer palavra, esquecera-se do resto do
mundo ao redor, enquanto orava e fazia com que a garota orasse ao seu anjo da
guarda, e esta o fazia aos prantos. Tornara-se aquilo tudo uma via sacra,
sempre acompanhada de perto pelas outras crianças da casa.[...]
Mais um fragmento de um pequeno texto despretencioso. Gosto dele.
Nenhum comentário:
Postar um comentário