Martha: Firma-te de pé, homem.
Fúlvio: Onde estou?
Martha: Obedeça-me e em breve estarás no paraíso.
Fúlvio: Afasta-te de mim.
Martha: Ouça-me. Faça o que vos digo e viverás eternamente
em doces sonhos.
Fúlvio: Não creio em tuas palavras.
Martha: Crer ou não crer, não é esta a questão.
Fúlvio: Sinto lascívia em teu tom de voz.
Marha: Tuas palavras são realmente belas, mas não estão no
roteiro.
Fúlvio: Belas! Desonra-me tocar-te uma vez mais. Pois não há
em meu corpo castigado uma só célula que nutra por ti qualquer afeição.
Martha: Heresia! Ontem mesmo juraste amor eterno.
Fúlvio: Crê tu na palavra de um bêbado?
Martha: Hei de tomá-la como verdadeira, onde e como me
convir.
Fúlvio: Onde estou?
Martha: Continuas a pronunciar palavras que definitivamente
não fazem parte do roteiro.
Fúlvio: Por que falas em roteiro?
Martha: Por tudo que há de mais sagrado, por que tantas
perguntas?
Fúlvio: Esta é tua mão?
Martha: O que achas?
Fúlvio: Quão ressequidas estão elas! E este cheiro no ar? Seria
flor de defunto?
Martha: Não vos entendo...
Fúlvio: Agora tu não me entendes!
Martha: Queres fazer-me derramar lágrimas de tristeza em dia
em que a priori deveria ser carregado
apenas de imensa alegria?
Fúlvio: Não há luz!
Martha: Não respondes.
Fúlvio: Não me recordo nem mesmo do momento em que me
coloquei de pé.
Martha: Não haveria de ser isto um diálogo?
Fúlvio: Diálogo?! Queres mesmo dialogar? Então, diga-me onde
estou e por que não consigo enxergar um palmo diante de mim?
Martha: Tua volúpia, tua paixão incontida, o veneno que
colocaste em minha mente na noite anterior. O que tens a me dizer sobre eles?
Fúlvio: Volúpia, paixão, veneno! Realmente tu me confundes.
Martha: Voltemos ao roteiro.
Fúlvio: Que diabos é esse tal roteiro?
Martha: Cala-te herege! Não pronuncies tal palavra.
Fúlvio: Diabos?
Martha: Cala-te. Mais uma vez eu vos falo.
Fúlvio: Diabos?
Martha: Tua alma arderá nas chamas da eternidade se
continuares a pronunciá-la.
Fúlvio: Arderás a meu lado?
Martha: O sarcasmo não vos salvará.
Fúlvio: Salvar-me? Salvar-me de quê, mulher?
Martha: Creio que eu tenha usado as palavras erradas.
Perdoa-me!
Fúlvio: Perdoar-te? Minha cabeça dói. Sinceramente, não vos
entendo. Não tenho a mínima idéia de onde eu possa estar. Não sei nem ao menos
como cheguei aqui... E por que tamanha escuridão?
Martha: Silêncio. Tais palavras não estão...
Fúlvio: Já sei. Tais palavras não estão no roteiro.
Martha: ...
Fúlvio: Por que não soltas minha mão?
Martha: ...
Fúlvio: Maldita ressaca!
Martha: Silêncio!
Padre: Fúlvio Epicureus, aceitas Martha Turca Fırsatçı como sua legítima
esposa?
Coronel
Firsatçi: Ele aceita!
E
fez-se a luz...
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