domingo, 21 de abril de 2013

Fúlvio e Martha

Martha: Firma-te de pé, homem.

Fúlvio: Onde estou?

Martha: Obedeça-me e em breve estarás no paraíso.

Fúlvio: Afasta-te de mim.

Martha: Ouça-me. Faça o que vos digo e viverás eternamente em doces sonhos.

Fúlvio: Não creio em tuas palavras.

Martha: Crer ou não crer, não é esta a questão.

Fúlvio: Sinto lascívia em teu tom de voz.

Marha: Tuas palavras são realmente belas, mas não estão no roteiro.

Fúlvio: Belas! Desonra-me tocar-te uma vez mais. Pois não há em meu corpo castigado uma só célula que nutra por ti qualquer afeição.

Martha: Heresia! Ontem mesmo juraste amor eterno.

Fúlvio: Crê tu na palavra de um bêbado?

Martha: Hei de tomá-la como verdadeira, onde e como me convir.

Fúlvio: Onde estou?

Martha: Continuas a pronunciar palavras que definitivamente não fazem parte do roteiro.

Fúlvio: Por que falas em roteiro?

Martha: Por tudo que há de mais sagrado, por que tantas perguntas?

Fúlvio: Esta é tua mão?

Martha: O que achas?

Fúlvio: Quão ressequidas estão elas! E este cheiro no ar? Seria flor de defunto?

Martha: Não vos entendo...

Fúlvio: Agora tu não me entendes!

Martha: Queres fazer-me derramar lágrimas de tristeza em dia em que a priori deveria ser carregado apenas de imensa alegria?

Fúlvio: Não há luz!

Martha: Não respondes.

Fúlvio: Não me recordo nem mesmo do momento em que me coloquei de pé.

Martha: Não haveria de ser isto um diálogo?

Fúlvio: Diálogo?! Queres mesmo dialogar? Então, diga-me onde estou e por que não consigo enxergar um palmo diante de mim?

Martha: Tua volúpia, tua paixão incontida, o veneno que colocaste em minha mente na noite anterior. O que tens a me dizer sobre eles?

Fúlvio: Volúpia, paixão, veneno! Realmente tu me confundes.

Martha: Voltemos ao roteiro.

Fúlvio: Que diabos é esse tal roteiro?

Martha: Cala-te herege! Não pronuncies tal palavra.

Fúlvio: Diabos?

Martha: Cala-te. Mais uma vez eu vos falo.

Fúlvio: Diabos?

Martha: Tua alma arderá nas chamas da eternidade se continuares a pronunciá-la.

Fúlvio: Arderás a meu lado?

Martha: O sarcasmo não vos salvará.

Fúlvio: Salvar-me? Salvar-me de quê, mulher?

Martha: Creio que eu tenha usado as palavras erradas. Perdoa-me!

Fúlvio: Perdoar-te? Minha cabeça dói. Sinceramente, não vos entendo. Não tenho a mínima idéia de onde eu possa estar. Não sei nem ao menos como cheguei aqui... E por que tamanha escuridão?

Martha: Silêncio. Tais palavras não estão...

Fúlvio: Já sei. Tais palavras não estão no roteiro.

Martha: ...

Fúlvio: Por que não soltas minha mão?

Martha: ...

Fúlvio: Maldita ressaca!

Martha: Silêncio!

Padre: Fúlvio Epicureus, aceitas Martha Turca Fırsatçı como sua legítima esposa?

Coronel Firsatçi: Ele aceita!

E fez-se a luz...

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