segunda-feira, 15 de abril de 2013

Antagônico ser soturno



Projeta-se a sombra inquietante e soturna
no semblante ferido de sua alma agoniada;
aninha-se furtiva nos pólos norte e sul de seu cérebro entorpecido
pela luxúria e pelos pecados que sua vida recobrem.

A dor a qual se entrega lhe traz prazer e alegria a sua mente lamuriosa,
escarnecendo-se de sua fraqueza,
ao mesmo tempo humana e divina.

Faz-se carne apodrecida nos cantos de alguma praça,
doutor de seus próprios ensinamentos,
de suas convicções anacrônicas, fétidas e amargas
como o fel que escorre de sua boca ao pronunciar seus discursos;
palavras soltas ao vento, carregadas de seus propósitos macabros.

Faz da noite uma amiga e confidente,
das amarguras que tenta e consegue infringir no coração dos fracos.
Pela discórdia se faz altivo,
vangloriando-se do monstro que cultiva em seu ser.

Por que sofre e faz sofrer,
se a mácula de seus dias passados
é eterno estigma de seus dias vindouros?

Se a destruição das vidas alheias lhe é tão prazeroso,
por que não vive a sua própria sobre os crânios de suas vítimas,
ao invés de chorar lágrimas de vidro no vazio de seu quarto?

Se mata aquele que elegera seu inimigo,
por que não se banqueteia de sua carne e não se farta de seu sangue?
É o falso antagonismo de caráter que lhe traz tamanha credulidade?
Antagônico.

O azul do céu em contraponto à terra ressequida do deserto é uma analogia perfeita:
em seus olhos a doçura cativante dos anjos;
em suas mãos o sangue dos justos e não justos.

Aqueles que com você caminham
são os mesmos que têm à mesa com você o último cálice;
o arsênico desce-lhes a garganta, quente e corrosivo,
como sua saliva satânica.

Afasta de mim o seu cálice imundo;
durma nos montes a oeste de minha tenda enquanto monto guarda.
Não quero a sua companhia.

Haverá o dia em que o seu sorriso,
corrompido pela sua vida desregrada,
de opulências e futilidades,
de dor e de agonia,
não mais tocará o coração dos fracos.


Mais uma vez tentanto e mais uma vez, provavelmente fazendo algo meio porco, no melhor sentido da palavra, afinal, poemas, poesias e afins não são mesmo o meu forte. 

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